O que os jovens das quebradas vêm fazendo para lidar com o desemprego
Segundo dados do IBGE, os jovens são os mais afetados pelo desemprego que atualmente atinge quase 13 milhões de pessoas no país. A situação alcança todas as faixas etárias, porém a que mais tem chamado a atenção das pesquisas são os jovens. Sendo que 41% da população entre 18 e 29 anos fazia parte do grupo de pessoas que estavam desempregados, desistiram de procurar emprego ou tinha disponibilidade para trabalhar por mais horas na semana.
No total são 7 milhões de jovens brasileiros subutilizados, o maior número já registrado desde que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) começou a ser apurada em 2012 — destes, 4 milhões estavam desempregados, em busca de uma colocação, levando a uma taxa de desemprego entre esse grupo de 27%.
Quando se trata do recorte de periferias de grandes metrópoles, não se sabe qual o número real de jovens desempregados, mas, ao circular pelas quebradas, é notável que a juventude vem tentando de diversas formas trabalhar, buscando meios para conseguirem dinheiro e se manterem. O aumento de jovens atuando na informalidade também chama atenção. É notável a presença deles tentando trabalhar nas ruas, semáforos, trens, estabelecimentos comerciais etc.
O DiCampana Foto Coletivo, projeto de fotografia que registra o cotidiano das periferias, começou a registrar a atuação desses jovens no seu ambiente de trabalho. Iremos postar fotografias que mostram como eles estão se virando no cotidiano para conseguirem se sustentar.
As primeiras imagens revela um pouco do cotidiano de três jovens. Dois trabalham aos finais de semana como plaqueiros e outro está iniciando um empreendimento próximo a sua casa.
Douglas Luís Apolinário, 18 anos, mora desde os 6 anos no Jardim Salete, Taboão da Serra, São Paulo. Pelo fato de ter acessado a escola mais tarde, quando tinha 8 anos, ainda não terminou os ensino médio, restam o segundo e o terceiro ano. Por esse motivo, não está conseguindo trabalho e aos finais de semana faz "bico" para ajudar com as despesas da casa que mora com a avó. "Nunca tive emprego fixo. Só faço bico. Sexta, sábado e domingo. Ganho um dinheirinho a mais, para quando eu quiser sair, ajudar a minha avó a pagar as contas. É bom ter um dinheiro para poder ajudar."
O Jovem está há cerca de dois meses trabalhando cobrindo o almoço dos plaqueiros que prestam serviços para imobiliárias. "Funciona assim: a pessoa tem meia hora de descanso, mas nesse período o posto não pode ficar abandonado. Então eu cubro enquanto a pessoa come ou descansa". No tempo de quase quatro horas, ele cobriu o almoço de quatro pessoas. Relata que nem sempre dá tempo de todos as pessoa almoçarem.
Douglas não pretende ficar exercendo este trabalho por muito tempo. Deseja fazer cursos relacionados a tecnologia ou eletricidade. Para ele, a situação do desemprego tem piorado por conta da política."Já não acompanho nada porque eu não gosto.
Acho que falam demais, mentem demais, roubam demais e o Brasil não vai para frente. Não é uma questão de estrutura, as pessoas precisam ter mais caráter, com isso já mudaria um pouco", desabafa.
Para baiano Willian Souza, 28 anos, nascido na cidade de Iuiú, norte do estado, a atividade de plaqueiro não é a principal. De segunda a quarta ele atua como ajudante, descarregando carga de material de limpeza em uma transportadora. E aos finais de semana faz bicos nas ruas, carregando propagandas de construtoras anunciando empreendimento. Conta que não é um trabalho que gosta de fazer, mas devido a ausência de oportunidade, é assim que está colocando o alimento dentro de casa. " O desemprego piorou. Só aparece bico, nada de trabalho fixo. Peguei esse porque chegou o fim do ano. Mas passando essa fase, vou procurar outro emprego. Se aparecer, mas se não aparecer vai ser o jeito voltar pra cá. Ficar parado, não vira", relata.
Apesar de estar a pouco tempo com a atual empresa, diz que já está há um tempo trabalhando entregando panfletos no farol ou segurando placas. Para ele, o que o deixa desmotivado é valor pago de remuneração por dia de trabalho, R$ 40,00. William acredita que a quantia poderia ser pelo menos R$ 80,00. "Não é um trabalho pesado, mas é muito cansativo. Chegamos 09h30 e saímos 5h30. Chego em casa quebrado. Com as costas e as pernas bem doloridas. Só melhoro depois do banho", conta.
Paulo Campos, jovem comerciante no Jardim Clementino, Taboão da Serra, São Paulo, diz ser foi um cara de correria, que foram raras as vezes que esteve na situação de desempregado. Sempre teve disposição de trabalhar com alguma coisa. Não ficava esperando um trabalho registrado. Não é aquele jovem que sai espalhando muitos currículos com a esperança de conseguir um trabalho CLT. É de correr atrás, ligar pro amigos para perguntar se tem “bico” pra fazer.
O maior período de desemprego que passou foi quando comprou uma moto há 5 anos. Mas infelizmente, com 3 meses de uso, foi roubado. Mesmo assim, em 15 dias, deu entrada em outra moto. "Essa tenho até hoje e já faz 6 anos de uso. Com ela, vi que eu tinha uma ferramenta de mobilidade, para entregar documentos aqui e ali. Fazer umas entregas. Tinha meses que não apareceria nada. Mas, no geral, ela me manteve e não deixou eu ficar totalmente desempregado. Eu posso considerar que já sou um autônomo há uns 4 anos. Se eu mostrar minha carteira de trabalho, ela comprova que está há mais de 5 anos sem um novo registro", conta Campos.
Atualmente, a situação de Paulo hoje é de comerciante, "eu me sinto como todos os comerciantes se sente: endividados. Mas não a ponto de sentir que o negócio não está fluindo. É uma situação de dívida rotativa. Hoje a gente compra, amanhã pagamos as conta e depois temos poder de compra de novo. E depois de voltarmos a pagar os custos de novo. Estamos sempre assim. Vivendo no azul e vermelho cotidianamente", revela.
Esta matéria faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola e Não me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento, TV Grajaú, DiCampana Foto Coletivo e Nós, Mulheres da Periferia, com patrocínio da Fundação Tide Setúbal.